A SACADA
São exatos cinquenta dias de quarentena, confinamento, distanciamento social ou outra classificação qualquer. Exatos 50 dias, com raríssimas saídas, e sem ver qualquer membro da minha família, a não ser por fotografia ou chamada de vídeo. É realmente espantoso que em tempos de incontáveis avanços científicos e tecnológicos, a humanidade tenha que se manter isolada uns dos outros por causa de um vírus mortal, que morre com água e sabão. Peculiaridades humanoides, ou recado de uma terra cansada de desaforos? Não temos a resposta ainda, com certeza. A única certeza que temos é que uma ameaça minúscula e invisível a olhos nus, que nos usa descaradamente como hospedeiros de sua vil vivência, nos torna algozes de outros da nossa própria espécie. Tenho me mantido a olhar os dias passarem como se não houvesse amanhã. Não, não estou desiludida, muito pelo contrário! Cada dia que passa, o agora se torna o meu viver. Sem expectativas, mas também sem desesperança. Acredito cada vez mais