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A SACADA

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São exatos cinquenta dias de quarentena, confinamento, distanciamento social ou outra classificação qualquer. Exatos 50 dias, com raríssimas saídas, e sem ver qualquer membro da minha família, a não ser por fotografia ou chamada de vídeo.  É realmente espantoso que em tempos de incontáveis avanços científicos e tecnológicos, a humanidade tenha que se manter isolada uns dos outros por causa de um vírus mortal, que morre com água e sabão. Peculiaridades humanoides, ou recado de uma terra cansada de desaforos? Não temos a resposta ainda, com certeza. A única certeza que temos é que uma ameaça minúscula e invisível a olhos nus, que nos usa descaradamente como hospedeiros de sua vil vivência, nos torna algozes de outros da nossa própria espécie.  Tenho me mantido a olhar os dias passarem como se não houvesse amanhã. Não, não estou desiludida, muito pelo contrário! Cada dia que passa, o agora se torna o meu viver. Sem expectativas, mas também sem desesperança. Acredito cada vez mais

28o. DIA - SEGUNDA PODIA SER TERÇA.

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                     Nunca fui muito simpática às Segundas-Feiras. Primeiro dia da semana de trabalho. Aquele dia que você ainda acorda na "ressaca" do final de semana. Aquele dia que dá vontade de ficar mais tempo na cama, ficar um pouco mais de bobeira... Nunca uma segunda-feira foi tão difícil. A trilha sonora que embalou minhas lembranças no domingo, me trouxeram uma segunda-feira saudosa. Acordei tarde, tomei café, sem falar muito, e fui para a sacada do quarto tomar sol. O horizonte me pareceu tão pequeno. Não consegui imaginar para além dos imensos prédios que se colocavam a minha frente. Olhei ao lado, a área de lazer solitária, à espera dos seus frequentadores, que desapareceram depois da quarentena. Eu podia escutar a voz da apresentadora do telejornal que invadia o meu quarto, informando sobre o crescente número de mortes nos Estados Unidos, e a situação de confinamento da população de Nova York.  Lembrei das vezes que estive na cidade, e da confortáv

VIGÉSIMO SÉTIMO DIA DE CONFINAMENTO - RECORDANDO COM TRILHA SONORA

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Dia 12 de abril de 2020. Ao contrário de um domingo normal de Páscoa, estamos em casa, eu, o marido, e o filho de 32 anos. E, ao contrário de um outro domingo qualquer, decidi que era dia de faxinar alguns cômodos da casa. Liguei o celular na caixinha de som, e coloquei Bee Gees. Adoro fazer faxina escutando Bee Gees e Abba. Me recordo da adolescência, quando fazer faxina ou lavor o carro na frente de casa, podia virar uma farra boa. Toca-fitas Rio de Janeiro  😊 , solzão de quarenta graus na cabeça, biquinão, e muita água na mangueira. Os amigos passando na frente de casa, buzinando, e chamando para praia. Bons tempos aqueles em Coroa Grande, quando não tínhamos grandes compromissos com nada. Apenas ir à escola, ir para praia, curtir o sol e os amigos. Os finais de semana eram sempre divertidos. De um lado tínhamos a praia e do outro a Serra, com inúmeras cachoeiras. Logo perto, em Itacuruça, tínhamos o acesso a um arquipélago incrível, em que podíamos alugar barcos e fazer pique

VIGÉSIMO TERCEIRO DIA DE ISOLAMENTO - A REINVENÇÃO

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          Não, não é nada fácil. Ficar confinado a alguns metros quadrados, com mais dois adultos, vinte e quatro horas por dia, não é uma tarefa fácil.         Aos vinte um dias, a primeira desavença. Os homens (pelo menos os da minha casa), sempre mais descuidados com os detalhes, deixam de tomar pequenos cuidados que podem ser fatais. Meu olhar 360o. e a minha chatice não deixam passar nada. Enfim, na hora do salve-se quem puder, a mãe da casa sempre quer salvar a todos, inclusive a ela mesmo. Mas, as desavenças sempre me causam um mal-estar e acabam minando minhas energias, coisa que neste momento é absolutamente inadmissível de acontecer. Precisamos de toda a energia possível para vencer esse confinamento, e estar atentos a como nos mantermos saudáveis e vivos. Sim, caros amigos, vivos. Ou ainda não se deram conta que que todos estamos com uma faca bem próxima do nosso pescoço?        Lembrei-me, em algum momento, de que sou uma sobrevivente. Recordei da minha mãe relatando

VIGÉSIMO DIA DE CONFINAMENTO. SOBRE MEDOS, FRUSTRAÇÕES E ESPERANÇA

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Os dias não têm sido fáceis, mais os últimos dois dias foram os mais difíceis até agora, tanto que ontem, minha pressão arterial resolveu passear lá em cima.  Sim, tenho meditado. Sim, tenho feito uma ou outra dança e exercício aqui e ali. Sim, tenho exercitado a mente. Sim, tenho visto os noticiários com o número de mortes crescendo no Brasil. Sim, tenho visto o número de pobres e pessoas sem alimentação crescer no país. Sim, tenho visto gente educada e bem informada não querer cumprir com as orientações da OMS. Aqui em casa mesmo, meu filho de 32 anos resolveu surfar com um amigo, se locomovendo os dois no mesmo carro, mesmo eu tendo pedido a ele que  fosse sozinho no nosso. Sim, somos egoístas e só pensamos em nós mesmos, no nosso bem estar. É só olhar o contexto mundial para entender o que nós brasileiros fizemos a nós mesmos, por pura arrogância e um ódio sem fundamento. Olhe como o presidente americano tem confiscado material de outros países, em nome do bem estar do p

DECIMO SÉTIMO DIA DE CONFINAMENTO - COVID 19 - BRASIL

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         Hoje foi f.! Perdoe-me se você não gosta de palavrões, mas eu não tinha nenhuma outra para usar que se encaixasse melhor.         Acordei às 7 da manhã. Levantei-me, evitando consultar as redes sociais. Olhei para o WhatsApp apenas. Quem tem pais velhos não pode se desconectar. Nenhuma novidade. Aliás, até as novidades, por mais trágicas que sejam, já não me parecem novidades, e isso me assusta.     Na TV, a apresentadora do telejornal local parece mais "encher linguiça" do que informar necessariamente. Tenho a impressão que o telejornal local "daquela que todo mundo assiste, mas diz que não" está sufocado com o esticamento do tempo exigido pela REDE, e daí, é muita embromação e pouca informação.        O cheiro do café fresquinho invade a sala, se misturando ao cheiro do cuscuz de milho.  Senti o estomago roncar baixinho, meio envergonhado talvez, já que vez por outra, chamo o marido de comilão. Meu amigo estomago não se atreveria a roncar alto.  

DECIMO SEXTO DIA DE CONFINAMENTO - COVID-19

Choveu muito durante a noite. Eu não dormi. Virava para um lado e para o outro. Decidi ir para a sala, assistir mais televisão. O controle passou por todos os canais, para lá e para cá, a procura de algo que me desse sono. Confesso que não me recordo onde parei. Nem lembro bem o que assisti. Eu só queria mesmo algo bem chato, que embalasse meu sono, junto com o barulho da chuva forte que caía lá fora. Os números assustadores de mortos na Europa, E.U.A e até mesmo no Brasil me faziam sentir como se estivesse em uma guerra. Mas, não era mesmo? Só que agora o inimigo nos atacava a todos os seres humanos, paulatinamente, matando impiedosamente. Somente a nós. Sem atacar a fauna ou a flora. Somente a nós. Me ocorreu, que nem sempre as respostas às nossas perguntas são tão claras ou precisas quanto gostaríamos, mas se usarmos a nossa intuição (não o achismo), a nossa sensibilidade e abrirmos o nosso coração, veremos que a resposta está lá. Sim. Bem ali. Estamos nós a pedir socorro ao Cr